quinta-feira, fevereiro 2

Do sangue, nasce o vinho ...

- Mas você é meu irmão! - Esbravejou a garotinha, que não era mais uma garotinha, a não ser aos olhos dele. - Você tem obrigação de me apoiar em tudo!
- Ah, pequena, eu te apoio, por isso não quero ver você se ferir mais. Chega dessa loucura. Deixe o passado como ele está, ok? Vamos viver pra frente.
- Você sabe que eu não consigo, Pierre. Preciso desse..desse pedacinho da minha história que ainda está em branco...  - as lágrimas já começavam a brotar em seus olhos verdes, o que apertou o coração do irmão mais do que as palavras que ela dizia. - Eu não sei quem eu sou, não sei se fui abandonada, se fui desejada, não consigo pensar no meu futuro sem saber porque eu vim parar nessa cidade, e o que eu estou fazendo aqui. Aquela carta não me deixa dormir. Porque ela escondeu isso da gente?
- Pra não te ver assim! - o irmão a segurou pelos ombros e olhou em seus olhos, como fazia quando ela era criança e estava prestes a desabar em lágrimas, mas agora ela não era uma criança, e não desabava mais. - Alice... Ela não queria te ver neste estado. Só isso. Nossa mãe não fez por mal. E isso pra mim não importa! Quem é o teu pai, quem é o meu.. VOCÊ É MINHA IRMÃ, e eu estou com você. Só me prometa que não vai cair no mundo por causa de uma carta que pode nem ser sobre você. Nós não sabemos. não temos como saber...
As lágrimas que aviam brotado, agora escorrem. "Ela é apenas uma garotinha, minha pequena Alice... minha irmãzinha..." pensava Pierre. Mas ela já tinha 17 anos agora. Se continuasse com essa ideia fixa na cabeça, poderia abandona-lo em breve. E eles só tinham um ao outro, ele odiaria vê-la partir. Ele começou a afagar seus cabelos, e a abraçou, apoiando sua cabeça em seu ombro, fazendo ela se sentir segura, como só ele fazia.
-Vai ficar tudo bem maninha, tudo bem. Nós estamos juntos pequena, e é isso que importa.
Os corações apertados, os soluços travados e o cheiro do vinho se espalhavam pela adega. Se misturavam aos sons das lembranças da infância que compartilharam naquele lugar. E No fim da noite, somente o cheiro do vinho ficou. Na adega, nas roupas e no sonho, que a 'pequena' Alice sonhava, onde ele e seu irmão corriam livres por entre as uvas que a velam seu sono,  de sua janela. Livres, e juntos. Como deveria ser.

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